Saborear. Saber saborear para saber melhor, para descobrir o sabor que já estava lá à espera de ser encontrado. O sabor não está escondido. Nós é que andamos distraídos.
Saborear é rapar o tacho, é aproveitar, é deliciar-se até à ultima colher, até à ultima gota. Se ninguém estiver olhar, lambemos, sem vergonha. Sabe ainda melhor, a transgressão dos bons costumes.
Saborear é aproveitar.
Querer mais é negar o prazer de saborear até ao tutano. Se houver mais não nos damos ao trabalho. Saborear dá trabalho, implica presença, concentração dos sentidos num momento, num gesto. Saborear não é coisa que se faça distraído. Saborear requer intenção.
Se me oferecem mais, sem mais, então não preciso de saborear o que tinha. Não preciso de rapar o tacho, sugar até ao tutano.
Saborear é a antitese do consumismo impulsivo.
Saborear é tantrico. É antitese do mastiga-deita-fora.
Saborear é chupar o rebuçado até ele se dissolver.
Dou por mim a passear à beira-mar num dia primaveril daqueles bipolares, entre o sol e chuva.
Reparo na beleza da paisagem e do momento. Ainda antes de pensar que o momento vai acabar apanho-me a pensar quando vou ter o próximo. Ainda antes de acabar, já estou ansiar por mais. Caio nesta ansiedade e esqueço-me de saborear. Ansiei por mais quando mais estava à minha frente, agora.
Saborear pode muito bem ser a formula para acabar com ansiedade, a inveja e tudo o que sofremos por não ter. Porque saboreando, temos, mais.
Dizem-nos para nos focarmos no presente. Podemos estar no presente, a pensar que está a passar, que vai acabar, que vai fugir.
Ou podemos simplesmente saborea-lo, lambe-lo, rapa-lo, suga-lo até ao tutano.