Discordo. Contraponho. Rebato. Contradigo.
Porque assumo que te vou convencer quando partimos de uma posição diferente?
De onde vem esta ideia romântica, idílica, utópica até, de pensar que te posso convencer daquilo que não acreditas. Eu tenho uma posição, tu tens a tua. Infelizmente (ou não) são posições distintas, distantes. Há uma distância que as separa. Quando nos apercebemos, quando olhamos para a outra posição e percebemos a distância, ganhamos folgo. Não olhamos para o lado, não nos desinteressamos, pelo contrário, estamos prontos a mostrar que o outro está do lado errado.
A dança não é sempre igual. Umas vezes as coisas começam em “pezinhos de lã”, como se testássemos as águas, tivéssemos receio ou simplesmente por cerimónia e cuidado.
Outras tantas, ou por estarmos confortáveis com a contra-parte, ou por extremo desprezo (os extremos tocam-se!) irritamo-nos, levantamos a vós, mostramos incredulidade, raiva, agressividade. Como se a projecção física fosse um míssil em que o argumento é a ogiva.
Imagina o elixir da curiosidade. Tomávamos e imediatamente, viria das nossas entranhas uma curiosidade insaciável.
Para haver discórdia é preciso que os dois lados tenham ou informação diferente ou uma diferente interpretação da informação disponível. Ambas são incógnitas – podemos assumir mas não sabemos.
Mas, sob o efeito do elixir, podemos resolver esses enigmas. Mal tropeçamos na discrepância, vem-nos numa ância de conhecer, de explorar, de perceber o outro – o que é que ele sabe que eu não sei? Não com vontade de competir, mas com fome de saber.
Claro está, isto é mais fácil de escrever do que fazer.
Ter a clarividência de parar para beber o elixir quando as fundações do nosso ser, da nossa moral, estão a ser mal tratadas, questionadas, ignoradas, não é coisa pouca. Agarrar o momento em que sentimos o sangue fluir para a cabeça, em que a barriga se contorce, e o sobrolho se enruga. O corpo antecipa-se sempre à mente. Ainda não sabemos e já sentimos.
Em vez de reagir, quando agarramos o momento e o tomamos como nosso, ganhamos o controlo, o espaço para decidir como agir.
Ao libertar-nos do instinto, ganhamos liberdade.