O insulto sai fácil quando nos faltam os argumentos. É um sinal que tropeçámos nos argumentos, ou melhor que iamos saltando de argumento em argumento até que colocámos o pé em falso, o pé procura argumento e não o encontra. Resta-nos o insulto. “Isso é porque tu és um…” – nominativo, classificativo. Ou um “Vai mas é para…” autoritário. Ou um que quase passa por argumento “Isso são os …. que dizem”, indireto-nominativo.
Por isso é que o insulto deve ser livre e bem vindo.
Embora o povo quisesse que “Se nao os vences junta-te a eles” na verdade o povo “se não os vence, insulta-os”.
Porque se só me insultas se não me con-vences.
Insulta-me e dirte ei quem és – és um derrotado.
Vá, insulta-me! Vê-se te atreves!
Não prometo ser espelho e devolver-te na perfeição. Mas fica já a saber que quando me insultares vou secretamente encher-me de orgulho, quicá corar, de pensar que esgotei-te, limpei o que havia para limpar, e quando rapas o tacho o que sai é um insulto – já não é coisa que se consuma, já é um detrito, queimado, encrustrado.
Por isso deviamos liberalizar o insulto. Ou no minimo discriminaliza-lo.
É feio, mas não deve ser ilegal. Tolerar o mau gosto dos outros é uma afirmação de liberalismo, é o sinal de uma sociedade tolerante e evoluida.
Isto versus a imposição de um suposto bom gosto que só pode ser fascissoide, imposto por um qualquer comité do bom gosto e dos bons costumes.
A liberdade é caotica, e representa todo o espectro da estética – do bom ao mau gosto de cada um. Ninguém reina, todos têm o direito ao seu gosto, mesmo o mau.
Percebo que custa mais a quem gosta de ordem, anglos retos, limpos e aceticos. Para aqueles que a ordem é sinal de harmonia de uma existência superior. A ordem bela como oposição ao caos abominavel. Mas não deve ser por acaso que a estética ditatorial sempre gostou de ordem, estrutura, retas e retos.
O que temos numa sociedade liberal de gostos, não é caos, é uma organica complexa de misturas, dialeticas, dialogos, argumentos e contra-argumentos, encontros e desencontros. Organico e complexo, com multiplas camadas. Por vezes conseguimos distinguir padrões. Zonas desenhadas a esquadro em oposição às que se assumem como esquissos.
As pessoas do esquadro, não gostam de linhas imperfeitas. Os artistas orgânicos, não gostam de linhas direitas. Se gostos não se discutem, riscos também não. É arriscado.