Não dava nada por ele. Em termos de loucura, digo.
Depois da conversa, já não diria.
Falou-me de dor, contou-me sonhos incontáveis, e confessou-me o inconfessável.
Só podia ser louco. Ou isso ou maluco.
Aborrecido não era com certeza. Previsível menos ainda.
Uma caixa de surpresas, de impropérios, de verdades que outros se coibiam de dizer.
Falava baixo, como se tivesse a contar-me um segredo. E era. Aquela loucura não podia ser do conhecimento publico. Ou a palavra ou ele não resistiriam ao embate com a normalidade. Um ou outro seria derrubado, atropelado, ou tristemente ignorado.
Contou-me histórias, relatos do passado. Coisas que aconteceram, diz.
Falou-me de seres ignóbeis. Monstros disfarçados de pessoas.
Via horrores e contava-os como se fossem horrores.
Não estava apavarorado, nem assustado, ou mostrava qualquer sentimento de repulsa.
Era um relato frio, distante, contado de cima, como quem descreve uma cena na rua a partir de um 3º andar.
Aconteceu, diz, mesmo.
Ontem conheci um louco. Não me sai da cabeça.