arte não se consome

Ontem fui ouvi-la, vê-la, senti-la em palco. Na sua selva.

A Maria Joao faz musica dificil de consumir.

A Maria Joao faz musica maravilhosa de apreciar. De saborear. 

O meu cérebro matemático pergunta se serão duas variáveis ortogonais. Isto é, uma coisa não tem a ver com outra. Talvez. Fast food também é food? Fast fashion também é fashion? ¯\_(ツ)_/¯ 

E arte saboreia-se ou consome-se. Que sabores são esses?

A arte da Maria João não se consegue explicar. Tenta.

Explica-la é dissecá-la e falar de alguns ingredientes. Esquecendo outros. Ignorando outros. E reduzindo o todo às partes. 

Arte daquela não se explica, não se descreve. Sente-se. 

A arte da Maria João é mais que música. É performance. Canta com tudo, com a voz e o corpo. É um instrumento de infinitas possibilidades. Por vezes parece um rio por outras um vendaval. Um suspiro. Um esgar. 

Compramos o disco. Ouvimos a faixa para entreabrir a porta que nos deixa espreitar para o seu mundo que não é o nosso. 

É impossível empacotar a sua arte. Mesmo que embalada com um visual onírico à altura dos sons. Escapa algo. Muito. 

A arte não é consumo. 

Produto é produto

Arte é arte. 

Não compro o disco. Fico com o disco em troca de um valor simbólico pelo prazer de contribuir, de dizer obrigado. 

O disco é o token que me permite voltar a ouvi-la, voltar a sentir a sua energia, não no estúdio, no palco. 

Isto tudo deixa-me a inquirir sobre a relação entre arte e negócio, arte e subsistência, arte e viver da arte. 

Falamos pouco sobre como tudo o que somos como sociedade vem de uma reflexão e acção filosófica – de perguntas e hipóteses filosóficas. E a arte anda no meio disto tudo. Como forma de explorar túneis que saem do salão da racionalidade. Que incluem mas não se limitam às emoções. Que exploram os limites da nossa existência ou do sentido dela. Túneis labirínticos que escondem segredos sobre a nossa existência.

Tem valor. Não de somenos. 

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